quinta-feira, abril 25, 2024
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Os pés voadores de Victor Pesant

Ele aprendeu a pintar o seu mundo com os pés. Também desenha, faz origami e colagens revelando um talento e habilidade que poucos têm com as mãos.

Quem visita o Centro Internacional Sarah de Neurorreabilitação e Neurociências – unidade de referência da Rede Sarah de hospitais de reabilitação, situada na Barra da Tijuca -, se encanta com os quadros que decoram os corredores entre o hall de entrada e os ambulatórios. Já os pacientes são tomado por um fascínio diferente, como se cada uma daquelas telas fosse uma injeção de ânimo para superar as dificuldades da vida.

O retrato de Dona Eliete

Os quadros fazem parte da exposição “Pés Para Voar” e são assinados por Victor Pesant, 28 anos, que usou os pés para pintá-los. Alguns são tão perfeitos, como o retrato que o pintor dedicou à sua mãe, que parecem fotografias, tal o esmero nos detalhes. Apesar de não estar aberta ao público, a exposição de Pesant estará no Rio até o final de dezembro. Curiosidade: os pés, marca registrada do artista, estão em seu sobrenome.

Victor Pesant é portador de paralisia cerebral do tipo coreoatetose. O termo  é usado para definir a associação de movimentos involuntários contínuos, uniformes e lentos (atetósicos) e rápidos, arrítmicos e de início súbito (coreicos). Seus músculos ficam retesados, provocando movimentos bruscos dos braços e das mãos, principalmente. Os músculos da face, enrijecidos, também prejudicam a fala e são poucos os que conseguem entender as suas palavras. No entanto, a outra parte do cérebro funciona perfeitamente bem, abrindo luz para uma genialidade que poucos possuem.

A avó, Maurina Cruz, e a mãe, Eliete Santos, sempre quebraram lanças para ajudá-lo. Primeiro, na Ação Comunitária do Brasil, na Vila do João, onde Victor pintou e comercializou as suas primeiras gravuras; depois, quando bateram à porta da Rede Sarah. Victor chegou com apenas 11 anos e já impressionou os médicos, porque nunca aceitou ser tratado como um “coitadinho”. Se não podia usar as mãos para desenvolver a sua arte, quem sabe a boca? A experiência também não foi das melhores. E os pés? Maravilha! Sempre funcionaram com raro talento.

Através do Sarah, Victor chegou à Associação de Pintores com a Boca e os Pés, onde pode burilar as suas técnicas: desenha, pinta, faz origamis e colagens. Determinado, o artista não se dá por satisfeito. Agora, além da pintura, pratica a arte da dança também, adequando-a à limitação de seus movimentos – imprevisíveis, indomáveis, revolucionariamente contemporâneos!

“Não sou um coitadinho

O caçador de paz

No início de março, quando a professora de Artes Aline Gama e outros profissionais do Sarah acabavam de organizar a exposição de Pesant, nasceu a ideia de fazer uma entrevista com o artista. Ela foi publicada nos paineis onde estão expostos os quadros, com o artista contando a sua própria história e defendendo os seus pontos de vista.

Quando despertou a sua paixão pelo desenho?

VP – Foi na época que eu levava o desenho como uma brincadeira de criança, como uma distração, tanto em casa como na escola.
Aos 7 anos percebi que gostava de desenhar e pintar, e que gostaria de fazer um curso.

E a vontade de se tornar um artista?

VP – Quando criança percebi a arte como uma ferramenta para solucionar os meus problemas, pois eu não aceitava a condição de coitadinho.
As pessoas falavam :”Tadinho, ele é doente…” E eu respondia: “Tadinho de tu, doente é a sua mente.”

Pela arte queria mudar a condição da minha vida, pois poderia mostrar que a minha potência é maior que a minha deficiência.
Não quero que ninguém me trate com superioridade ou inferioridade.

De que forma aconteceu sua trajetória artística?

VP – Aos 9 anos comecei um curso de desenho na Ação Comunitária do Brasil, onde morávamos, na Vila do João, na Maré. Estudei lá em torno de dois a três anos. Neste curso pintei um Papai Noel que virou um cartão de Natal, que rendeu recursos para a ACB e para mim também.

Reproduções das telas de Victor Pesant – Na foto de abertura, o artista está entre a sua mãe e a professora Aline / Acervo Sarah

E a importância da Rede Sarah?

Vocês me incentivaram a estudar pintura fora do Sarah, também. Foi quando iniciei o estudo com o artista Ricardo Chancafe. Foi com vocês também que comecei a me preparar para enviar os trabalhos à Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP).

Entre 2009 e 2011 também estudei grafite, filosofia, design de interiores, adereços de carnaval… Num projeto social com o patrocínio da Petrobrás, oferecido aos estudantes das escolas da região. Ainda tinha uma bolsa.  Foi uma fase muito enriquecedora.

E quando aconteceu o seu interesse pela dança?

VP -Foi nesta fase também, a partir do convite da bailarina e coreógrafa Tereza Taquechel, para a participar de uma oficina de dança no Teatro Cacilda Becker.

Depois, fui convidado por ela para estagiar na Companhia de Dança Pulsar, no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro. Após o estágio, me tornei bailarino e criei a performance “telas vivas” onde pinto os corpos dos bailarinos.

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